segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


Quase Sem Querer
(Legião Urbana)


Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso,
Só que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo e tão contente.

Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém?!

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira,
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.

Já não me preocupo se eu não sei por quê.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

Tão correto e tão bonito;
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos!
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas,
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto.

Já não me preocupo se eu não sei por quê.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011



Abri os olhos e já estava claro. Era o fim do horário de verão. Os lençóis não me deixavam levantar, pesavam quase sobre meu corpo preguiçoso. "Eu tenho hora", pensei. Então levantei. Dentes, banho, café, passei pela trilogia cotidiana e, enfim, acordei. Pensei em Deus, pedi a Ele um bom dia, não só para mim, mas para aqueles que amo. E aí, então, o diálogo começou. De mim comigo mesma, de mim com meu passado, presente e futuro. Lembrei de quando cada dia começava em uma hora, na hora em que bem entendesse. Pensei em o quanto eu atribuía tédio a isso, aos dias vazios, sem "o que fazer". Logo me veio a cabeça a menina que eu era, "sabichona", "safa", achava que o futuro era certo, realizado e feliz. Os problemas eram algo criado pelos fracos, eu vivia mesmo era de soluções, ou então pegava o edredom, ligava o ar condicionado naquela temperatura ideal e ia dormir, dormir para esquecer. E esquecia. Essa menina ainda sou eu? Ontem uma branquinha de cabelos pretos passou correndo na rua, pegou o ônibus e partiu, o ônibus estava cheio, as estradas, engarrafadas, no trabalho, pessoas "passando a perna" umas nas outras. Em sua hora de almoço, pensou nas contas a pagar, no celular cuja conta abusiva está acima do seu planejamento, no aluguel que vence amanhã, no cartão de crédito e por aí vai. Sua expressão sisuda foi interrompida por uma ligação. Era sua melhor amiga. "Ai, como é bom ter amigas!". Por um instante esqueceu sua insatisfação com a raça humana e sorriu sinceramente. Sorriu também com o namorado, com o jeito carinhoso com que ele fala e agradeceu a Deus por ter amigos e alguém especial. Ao fim de mais um dia, chega em casa uma pessoa pela metade, a outra parte se perdeu na correria e no cansaço do dia. Fim do diálogo comigo mesma, saí correndo na rua, peguei o ônibus e parti.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011



Dom. Segundo o dicionário, dom significa dádiva, talento, dote natural. Dom é inexplicável, não é mesmo? Essa é a palavra adequada. Sinceramente, diante de certos talentos que temos a sorte de nos deparar não deveria existir palavra nenhuma. Um exemplo claro desse talento inato é uma menina de dezessete anos, nascida nas Filipinas, e dona de uma voz espetacular. Chama-se Charice Pempengco. Seu tamanho e aspecto infantil assumem uma nova roupagem no instante em que ela começa a en-cantar. E ela cresce e cresce de tal maneira que não há o que dizer, nem como dizer. O que nos cabe é admirar em silêncio e, como tudo aquilo que é bom, deixar com que aquelas notas que saem certamente do fundo do seu coração façam bem também ao nosso coração. Não sei se posso dizer que muitos têm dons como esse, porque Charice, para mim, é única. Só ela canta com aquela voz e daquela maneira. O fato é que existem muitos outros talentos diferentes dela, outras vozes, já que estou me referindo a essa forma de expressão, mas com a mesma capacidade de encantar, de trazer alegria, melancolia, emoção. Muitos destes nunca vão chegar a serem re-conhecidos, são talentos desperdiçados. Falta de sorte, talvez, deles e principalmente nossa. Importante é que eles existem e eu, mera mortal, que no máximo cantarolo algumas vezes ao dia, digo que a vida teria muito menos graça se não tivéssemos representantes como esses, famosos ou não, para cantarem nossas alegrias e tristezas. O nome disso é dom. E ponto.

http://www.charicemusic.com/
(Esse é o link do site oficial da Charice, nele constam sua biografia, além de alguns vídeos)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011



Como é complexo o ser humano! Quem sabe o que se passa no íntimo de cada um, ou, em uma esfera menor, será que sabemos o que se passa no nosso próprio íntimo? São muitas as interrogações. Ao assistir Cisne Negro, produção de Darren Aronofsky, estadunidense formado em Cinema por Harvard, nos deparamos com um exemplo perfeito dessa já citada complexidade humana. Nina, brilhantemente interpretada por Nathalie Portman, é uma bailarina dedicada, está sempre em busca dos movimentos perfeitos. Sua mãe, ex-bailarina, cria a filha para o balé, não para a vida. O elemento desestabilizador é o diretor de arte Thomas Leroy, um Vincent Cassel em sua melhor forma; ele tem o poder de escolher uma única bailarina para o almejado posto de "Princesa dos Cisnes". Nina, claro, seria a favorita, se o papel exigisse apenas a delicadeza e perfeição do Cisne branco, mas Leroy quer mais, quer de Nina uma versão dois em uma, um Cisne Branco e um Cisne Negro, dualidade de cores que revelam a pureza e a maldade contidas na obra ali representada. Leroy é exigente, quer ver o outro lado de Nina, o lado que, talvez, nem ela mesma conheça. O desejo latente de conseguir o papel faz surgir uma busca irrefreável por encontrar essa outra Nina e todos mergulhamos em um interior cheio de obssessões, limitações e incoerências. Nina é a bailarina que sua mãe não foi, é a bailarina que Beth MacIntyre, no papel, Winona Ryder, já foi, é uma bailarina cujo posto é desejado por todas as outras, em especial Lilly, Mila Kunis. Quem, de fato, é Nina? Se não fosse bailarina, quem Nina seria? É essa a pergunta feita por Leroy. O caminho para essa resposta é carregado de jogos de imagem que revolucionam o que temos como conceito de real e imaginário. No fundo, se aconteceu ou não, pouco importa. Para Nina, foi tudo real. Confuso, difícil, tortuoso, mas real porque ela viveu aquilo tudo. E nós, coléricos expectadores, vivemos tudo isso também, mesmo que por aquele curto espaço de tempo que durou o filme. Por isso, saímos de lá com um nó na garganta, ou uma pedrinha no sapato, é indiferente. O fato é que toda obra de arte deve ter a capacidade de intrigar, de incomodar, pois esse incômodo nos faz refletir e nos transforma de alguma maneira. Assim, olhamos o universo ao nosso redor de outra maneira. Se a pergunta "Quem é você?" fosse direcionada a mim, eu saberia responder? O interessante é sairmos de lá com perguntas, não respostas. As respostas satisfazem, as perguntas nos movem. Pouco me importa se "Cisne Negro" representou ou não com fidedignidade o universo das bailarinas, se a exigência de um biotipo ideal e a concorrência em excesso apresentadas pelo filme são ou não problemas frequentes na profissão, se Portman foi ou não, tecnicamente falando, uma bailarina perfeita. O importante é que Cisne Negro alterou a minha concepção de mundo, girou o caleidoscópio, portanto, toda a sua produção é digna de reconhecimento da minha parte e, em especial, do meio cinematográfico.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O céu está nublado. Nuvens escuras anunciam que vem chuva por aí. Águas limpas, abundantes e bem vindas, afinal, há muito por aqui que previsa ser lavado. A começar pelo meu coração. Ser humano não é fácil, você pode ter a vida toda arrumadinha, uma casa confortável, família feliz, relacionamento saudável e ainda assim estar com o coração obscuro. Ninguém compreende o coração do homem, só Deus mesmo. E o meu, nesse momento, está assim, incompreensível inclusive por mim. Sinto uma insatisfação e um desejo de reclamar de tudo quase crônicos. Como isso, se tenho todos os motivos do mundo para somente agradecer? Hoje entendo melhor os que sofrem por coisas pequenas, nunca os compreendi, muitas vezes pensei "você está sofrendo por isso?!", mas esse "isso" pode ser muita coisa para alguém... Uma criança sorriu pra mim, que alegria! Ela não vê problema em sorrir para uma estranha. Quais serão os motivos que a levaram a sorrir daquele jeito? Talvez sejam os mesmos que me levam a ficar séria. MIstérios da alma, segredos do coração. Sinto um pingo no nariz. É ela! "Faz chover, Senhor Jesus, derrama chuva neste lugar!".